Tasha e Tracie http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br Neste espaço vamos ter todo tipo de reflexão que topar com a nossa humanidade — de acordo com a perspectiva das autoras, é claro. Mon, 23 Sep 2019 21:55:44 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Pra você parar de dizer que não tem mina fazendo beat http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/09/23/pra-voce-parar-de-dizer-que-nao-tem-mina-fazendo-beat/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/09/23/pra-voce-parar-de-dizer-que-nao-tem-mina-fazendo-beat/#respond Mon, 23 Sep 2019 16:34:26 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=350 Nós sempre fomos fissuradas por música, e todo mundo que se aproximava percebia isso na gente. Inseridas na cena hip hop, ultramachista, começamos a trabalhar como DJs. A gente sabia que teria que se provar ali também. As pessoas dão muitas desculpas e motivos nem um pouco convincentes para não abrir espaço na mesma proporção pras minas. A gente sempre ouve que não tem mina suficiente no game, por exemplo. Pra mostrar que não é verdade, a gente apresenta aqui incríveis produtoras musicais.

Mas amigas e amigos, foi muito difícil descobrir outras beatmakers além das que estão em nosso radar, simplesmente porque às vezes é impossível pesquisar sobre a pessoa! Acabamos deixando muita gente de fora, porque não conseguimos saber mais sobre o trabalho. Há pouca divulgação do trabalho delas, e poucas pretas. 

Veja também:

Todos nós que trabalhamos com arte precisamos tirar um dia pra fazer um press release (comunicado à imprensa para divulgação de trabalho ou produto). Se você é independente, é ainda mais importante perder um tempo com isso. Mesmo que você ache que não sabe fazer, acredite, elaborar um texto curto contando de onde você vem, por que começou e quais são suas inspirações ajuda muito! Então, bora separar um dia pra se dedicar a sua “bio”, hein? Ajuda nóiz!

O mais triste, porém bastante esperado, é que encontramos poucas beatmakers negras. Somos as mulheres mais sobrecarregadas das coisas da vida… Na nossa caminhada vimos várias abandonando ou parando indefinidamente o trampo por conta da maternidade e sustento. Mas vamos à lista!

BadSista

Produtora paulistana nascida em Itaquera, aprendeu ainda criança e de forma autodidata a tocar violão. Mais tarde, conseguiu uma bolsa em produção fonográfica e começou a se aventurar nos processos de produção musical. Fundadora do coletivo Bandida, protagonizado por mulheres DJs e produtoras, em 2015, BadSista lançou o single “Na Madruga”, em parceria com o produtor brasiliense Tap pela gravadora Beatwise. Foi tão sucesso que ganhou remixes dos produtores Sango e Branko. BadSista é a diretora musical do álbum “Pajubá” de Linn da Quebrada, e produziu junto com a dupla Marginal Men a faixa “Firmeza” do álbum “A mulher do fim do mundo”, de Elza Soares.

Rayany Sinara

Produtora musical e beatmaker, nasceu em Mato Grosso do Sul e vive em São Paulo desde 2017. Autodidata, sua vibe transita pelo hip hop, house e techno.

Saskia

A cantora e compositora gaúcha Saskia chama atenção na cena de Porto Alegre. É conhecida como Sal, e deve ter seu primeiro disco produzido por Negro Leo e Ava Rocha. 

DJ Hurley

Essa braba aí é recomendação da DJ Brum, e a gente gostou demais! Ela faz parte da Tropa do Gordão, é de Belo Horizonte e produz funk malandrão, daquele jeito que a gente gosta!

Apuke

DJ desde os 16 anos, ela tem mergulhado no mundo das produções. Há mais de um ano e meio, carrega na inspiração de blues, trap e jazz e faz parte do grupo “Quebrada queer”, com várias produções na pista.

Attlanta

Attlanta tem 23 anos, é de Belo Horizonte e produz trap. Em entrevista, ela trocou uma ideia com a gente e contou que se inspira nos trabalhos de Lex Luger, na época de ouro do Dirty South, que a fez sonhar em ser produtora, além de Southside, “pela versatilidade dos 808”, e no produtor americano Zaytoven, pelas melodias complexas de piano.

Cita ainda WondaGurl, “a maior beatmaker mulher que temos hoje em dia, referência máxima, já produziu Jay-Z, Kanye West e driblou toda uma cena de boicote”.

DJ Brum

Barbara Brum, a DJ Brum, começou a carreira como dançarina. Estuda a cultura hip hop e o funk, produz há 7 anos e mora atualmente em Florianópolis. Ela também conversou com a gente e conta que ser uma mulher no hip hop é “basicamente ter muito pouca identificação com o meio e pouquíssimas referências”. “Quem convive em meios majoritariamente masculinos sabe que nós mulheres temos que ficar provando capacidade e inteligência o tempo inteiro, e mesmo assim, na hora H, vão preferir dar espaço pra outro cara, porque ninguém quer dar o primeiro passo de credibilizar uma mulher, até mesmo outras mulheres.”

Uma dica de DJ Brum é não se levar a sério tão rapidamente. “Ninguém vira o Dr. Dre do nada. Tudo leva tempo, até você conseguir direcionar e saber o que você está criando.” Suas maiores inspirações são BadSista, Pharrell Williams, J Dilla, Elaquent e Santo.
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Estética, hype e moda no hip hop http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/08/02/estetica-hype-e-moda-no-hip-hop/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/08/02/estetica-hype-e-moda-no-hip-hop/#respond Fri, 02 Aug 2019 22:10:23 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=202 A estética 

Muitos animais se exibem esteticamente para acasalar: o pavão, com seu rabo, o tristão, com seu moicano. Nos leões, a juba mais escura é sinal de força, porque, quando perde uma luta, o macho perde a juba e, quando ela cresce, fica mais clara. As leoas, então, escolhem os machos de jubas mais escuras. O macho fragata infla seu saco gular que é bem colorido e peludo, ficando atá 30 vezes maior que seu tamanho natural pra chamar a atenção das fêmeas… A estética, além de social, é instinto. Nas culturas e abordagens não-ocidentais a estética não se trata apenas de status, mas também de identidade e ancestralidade. No jazz, no soul, no funk e no disco, os negros chegaram usando a estética de forma inovadora.

Três coisas pra se expressar: a voz, o corpo e a estética

Nos anos 70, o Bronx, em Nova York, sofria miséria e onda de drogas (pesquise sobre guerra às drogas). Havia muita brutalidade policial e o efeito foi devastador! Em meio a esse pique todo nasceram as gangues, que se dividiam por ruas e eram muito violentas. Cada uma contava com sua própria identidade visual: os integrantes usavam e customizavam jaquetas de motoqueiro, coletes jeans personalizados com o nome das gangues, jeans pretos, tudo feito a mão e enfeitado com patches.

No ápice das gangues a coisa ficou muito feia e os bairros estavam em guerra, até que o Black Benji, pacificador da Gangue Ghetto Brothers (que é a referência do nome da dupla Domenica Dias e Jorge Dias, filhos de Eliane Dias e Mano Brown) foi pedir paz em uma situação com uma gangue rival e foi morto a pancadas.

Muito tristes e em homenagem ao amigo, em vez de retaliar como as gangues normalmente faziam, eles organizaram uma reunião em prol da paz com os líderes das gangues e fizeram um acordo que funcionou por um tempo e fez a atmosfera local mudar.

Agora, em vez de lutarem com os punhos, eles lutavam com as palavras. A rima era a nova arma e agora não eram mais gangues, eram crews que estampavam seus nomes nos moletons, começaram a dançar. Daí surgiu o estilo característico dos bboys e bgirls, os grafites, DJs, MCs, dando início a um dos ritmos mais influentes esteticamente e musicalmente hoje no mundo.

 A cultura hip hop tem uma relação especial com a moda

O hip hop florescia no Bronx e, como todo ritmo, ele desenvolvia sua identidade visual. No começo, tinha influência de Disco music, Rick James, botas de cano alto, casaco de peles, roupas apertadas, chockers… Na teoria não existia o Street Wear, e o som também era diferente, feito em cima de R&Bs e baladas, com músicas muito mais produzidas com instrumentos e bandas.

Surgem os Lo-Lifes colecionadores de Polo by Ralph Lauren

Em meados dos anos 80, em Nova York, nasce uma banca revolucionadora de “boosters” formada por duas crews do Brooklyn. Esses caras iam nas lojas de roupas de alto padrão que jamais poderiam comprar, de marcas que socialmente não conversariam com eles como, Benetton, Guess, Tommy Hilfiger e principalmente Ralph Lauren, onde roubavam na mão leve ou na de pegar tudo e sair correndo até a estação de trem mesmo. Os caras eram obcecados em ter a maior e mais rara coleção de peças e acessórios Polo e pra colar com os caras era polo da cabeça aos pés, até a cueca eles checavam. É por causa dos lo-lifes que todos os rappers e atores famosos começaram a usar que os fãs adotaram a moda.

Dapper Dan, a lenda do hip hop e ícone na moda, revoluciona sampleando as grandes marcas

Em 82, Dapper Dan abre sua butique 24h vendendo peças com logomania de marcas como Gucci e Louis Vuiton com moldes exclusivos, deixando as  roupas “mais negras” como ele diz, criando assim clandestinamente a “street wear” que nem existia ainda. O cara fazia as collabs mais loucas, como  tênis New Balance da Gucci, e até forrava bancos de carros dos cafetões e MCs com logos das marcas de alta costura com a mesma qualidade ou até melhor. Sinal de que você tinha se dado bem era portar as criações de Dap! Ele começou vendendo pra bandidos e depois conquistou os rappers mais famosos e relevantes! Dapper Dan criou as roupas mais icônicas, vestiu e ainda veste os maiores astros do hip hop.

No fim de 83, o RUN DMC inova e lança “Sucker MCs”, um som pesado e seco em cima de scratchs. Com seus tracksuits da Adidas, chapéus Kangol e Superstar sem cadarço, mudaram a estética do hip hop e o visual virou o uniforme das quebradas.

Em 85, Doug E. Fresh e Slick Rick lançam a música La Di Da Di, um som feito em cima do Beatbox do pioneiro Doug E Fresh, tanto na estética quanto no som. O jogo começa a mudar quando Slick Rick descreve a sua roupa muito antes de ser moda citar marcas nos raps falando de seus Ballys:

Threw on the Bally shoes and the fly green socks

Stepped out my house stopped short, oh no

I went back in, I forgot my Kangol”

(“Coloquei meus sapatos Bally e as meias verdes descoladas

Pisei fora da minha casa e parei, oh não!

Eu voltei pra dentro eu esqueci meu Kangol”)

 

Na capa do primeiro álbum, ele aparece de Ballys vermelhos e seu estilo influencia Rakim e vários outros rappers que viriam depois.

 

The ruler!

 

Big Daddy Kane lança seu corte de cabelo icônico

Em 86, Russell percebeu que o Run DMC estava vendendo muitos tênis pra Adidas e pensou que nada mais justo do que ganharem dinheiro com isso, então sugeriu que o Run DMC fizesse a música “My Adidas” e chamou representantes da marca para o show do grupo. Lá ele pediu para que as pessoas que estivessem de Adidas levantassem o tênis para o ar, numa plateia de quase 20 mil pessoas. E a maioria delas levantou seus tênis! Os representantes da marca resolveram dar um contrato pra eles, que viraram a primeira entidade não-esportiva a receber patrocínio de uma marca de esporte.

Em 87, RAKIM e Eric B lançam Paid in Full com a capa icônica vestindo a jaqueta do Dapper Dan e muito ouro:

Em 89, Cross Collors cria o Baggy Jeans. Antes disso todo mundo usava a calça três números maiores:

Em 1992, KRISS KROSS começa a usar roupas ao contrário nos vídeos e a moda pega!

Kriss Kross no Billboard Music Awards em dezembro de 1992

Em 1992, a loja de Dapper Dan é fechada por processos da Fila e da Gucci por uso de seus logos. Mais tarde, a Gucci o plagiaria.

Em 1993, o Wu Tang torna os Clarks Wallabee relevantes nas ruas:

Em 1994, Snoop aparece no Saturday Night Live com a blusa da Tommy Hilfiger criando ali um relacionamento da marca com o hip hop. A partir dali, Aliyah e Usher fizeram propagandas da grife.

Da Brat também representava e fazia todas as mina querer ser tomboy:

Nos anos 90, Will Smith estreia a série “Um Maluco no Pedaço” e usa Cross Collors em vários episódios.

Também nos anos 90, LL COOL J lança o clipe Hey Lover em que usa a calça com uma perna levantada, Whitney Houston diz que ele se inspirou no Bobby Brown e ele diz que Bobby Brown se inspirou nele…

BIG arrasava com seu Sweater da Coogi Down e óculos Versace:

Tupac usava a bandana com o laço pra frente:

Alliyah e seu look tomboy delicado:

TLC com os looks tomboys mais incríveis:

Lil’ Kim era dona do lugar com seus looks de bad bitch:

Mary J Blige usava camisas de basebol e montava looks como ninguém:

Missy Elliot sempre original e à frente do tempo:

Em 1996, Ghostface Killah lança “Iron Man” com a capa cheia de clarks:

Fim dos anos 90 e o DMX sempre de regata branca e Baggys, o famoso pitbullzado!

Em 1999, Memphis Bleek influencia usando boné em cima da Du Rag:

Pharrell e os moletons estampados da Bape…

Anos 2000 e…

Dipset era a mob mais foda na moda

Nelly lança tendência com o curativo na cara:

Em 2002, a Burberry recusou a solicitação da estilista de Ja Rule, Rachel Johnson, para algumas peças para uma sessão de fotos de promoção de seu álbum que foi triplo platina e indicado ao Grammy, “Pain is Love”. Segundo Rachel, a marca não queria que ele usasse. Sua estilista comprou do mesmo jeito e, assim como ele, os fãs também começaram a usar em peso. Meses depois, a grife enviou uma carta de agradecimento a Ja Rule. Hoje eles já vestiram Nicki Minaj, Beyonce, Stormzy e vaaários rappers!

Em 2004, Camron usa a roupa icônica de pele rosa:

Em 2005, Dem Franchize Boys lançam as camisetas super largas:

Em 2006, Kanye West e óculos Alain Mikli:

Em 2006 surge a Hood By Air, marca foda “ghetto gótica boujee” de Shayne Oliver que graças a Jah será relançada para a nossa alegria!

Em 2009, Odd Future e os bonés da Supreme:

Em 2011, A$AP Rocky Lança “Live. Love. A$AP”

E de repente todo mundo começa a usar camisa xadrez…

Em 2015, Kanye West lança o primeiro Yeezy:

A Clarks finalmente colabora com Wu-Tang em 2018

Dapper Dan foi processado e depois copiado pela Gucci!

Em 89, Dapper Dan criou para a atleta olímpica Diane Dixon uma jaqueta bufante com estampas da Louis V que foi copiada em 2017 no desfile Cruise da Gucci! Alessandro Michele, o diretor criativo, afirmou que era uma homenagem a Dapper Dan. Toda repercussão, com documentários e matérias destacando a história do estilista, voltou novamente os olhos para Dapper e, finalmente, rendeu-lhe reconhecimento merecido.

Todo esse rolê também fez com que a Gucci reabrisse junto com ele seu ateliê, vai!!!

Antes recusados, agora recusando!

Antigamente, a postura da Burberry era muito comum entre as marcas de luxo, que não queriam ver os rappers usando suas roupas. Agora, meu amigo, eles estão cientes que se não nos incluírem nos catálogos, não terão lugar no mercado no futuro. Estudos apontam que o novo consumidor de luxo, Millennials e Gen Z serão responsáveis por 45% do mercado mundial de artigos pessoais até 2025. Aos poucos as marcas estão entendendo que, se eles não se comunicarem autenticamente com os rappers, elas só têm a perder, até porque quem ganha alguma coisa com o racismo, não é verdade? Só se perde! Esse encontro das marcas de luxo com o hip hop foi primordial na construção do conceito de hype que temos hoje. Todo esse rolê levou às collabs de marcas esportivas ou independentes com marcas de alta costura e desse conceito nasceram várias marcas como Supreme e Palace. Uma de nossas collabs preferidas é da Polo Ralph Lauren com a Palace. AFF!

Hoje temos na Louis Vuitton o primeiro negro a comandar uma grande marca de luxo, o estilista Virgil Abloh, cria do hip hop e dono de uma das marcas mais influentes atualmente, a OFF WHITE:

Atualmente no hip hop temos várias narrativas estéticas, pra quem quiser, de rapper emo a trap punk! Estamos seguindo com o nosso legado e impondo nossa individualidade cada vez mais. Que assim seja!

 

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A moda muda quando a sociedade muda http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/06/11/a-moda-muda-quando-a-sociedade-muda/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/06/11/a-moda-muda-quando-a-sociedade-muda/#respond Wed, 12 Jun 2019 02:01:32 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=185

A gente cresceu assistindo aos vídeos do Prince com nosso pai, que é um grande fã e sempre contava histórias de rivalidade que ele e os amigos tinham com os fãs de Michael Jackson. Ele contava que usava um cabelo excêntrico, “fashion”, calça de cintura altíssima e botas plataforma. Lembra que o clima ficava tenso quando se discutia quem era o melhor: Michael ou Prince. Meu pai é fã dos dois, mas dizia que na época era do lado do Prince que ele ficava. Nós ficávamos admiradas com as roupas, os clipes, as mulheres, o jeito que ele dançava, a música… tudo mexia muito com nossa cabeça! Mas também ficávamos nos questionando como o meu pai, um nigeriano bem machista que vem de uma cidade e cultura não tão aberta à homoafetividade, era super fã de um artista andrógeno e se via representado por ele?

Prince era um cara genioso, que aos 17 anos, ainda sem ter lançado nenhum disco, recusou a produção de Maurice White (produtor do Earth, Wind and Fire) para o seu álbum porque ele queria fazer tudo! E a gente se identifica muito! Somos meio obcecadas por ele e toda sua arte, e o fato de ele ser geminiano — como nós, aliás —, nos aproxima mais ainda. Mas a moda nele era algo que nos intrigava e inspirava demais. Meu pai é uma das pessoas com melhor senso para moda que já conhecemos, e o fato de ele, tão “macho”, ter sido super influenciado pelo Prince é a prova de que Prince redefiniu o conceito de masculinidade negra.

Sim, havia o David Bowie, o Elton John, todos eles eram andrógenos, mas na cultura negra, em que o conceito de masculinidade atual é bem tóxico e baseado em construções sociais feitas em cima de mitos que resultam em estereótipos, o único homem negro que até então tinha flertado com a feminilidade era o Little Richard. Mas o Prince foi muito além, desafiando as barreiras de gênero, sexualidade, masculinidade e ainda sim com uma imagem de galã, desejado pelas mulheres… um “playa” que as fãs enlouqueciam quando viam! Como dizem por aí, ele era um cara de salto alto que podia roubar sua namorada! Na música “Controversy” ele fala:

“Eu simplesmente não consigo acreditar na coisas que as pessoas dizem

Controverso!

Eu sou preto ou sou branco, sou hétero ou sou gay?

Controverso!

(…) Eu não consigo entender a curiosidade humana

O que é bom pra você, é o que você queria que eu fosse?

Se eu acredito em Deus, se eu acredito em mim? Algumas pessoas querem morrer pra então elas poderem ser livres…

Controverso!”

Quando questionado sobre sexualidade, ele dizia que era algo espiritual, tanto que quando mudou seu nome para um símbolo chamado “símbolo do amor”, o tal era a junção dos ícones de masculino e feminino.

Há um tempo atrás, nós descobrimos o “#carefreeblackboy movement” (que numa tradução livre significa “homem negro sem preocupações”). Antes, esse termo era usado por mulheres negras nas redes sociais, que postavam fotos com seus cabelos coloridos, coroas de flores e imagens leves e divertidas. A ideia era mostrá-las confortáveis em suas peles e corpos, com a intenção de “protestar” contra o estereótipo da mulher negra agressiva e brava. Na sequência, os homens negros começaram a usar esse termo para protestar contra os mitos que construíram estereótipos sobre homens negros e ajudaram a perpetuar conceitos de masculinidade toxica.

Com certeza você deve ter visto fotos de homens negros com flores na barba e com expressões calmas e bonitas, O movimento já tem mais de três anos e tem como “muso” o Jaden Smith, que constantemente desafia esterótipos de masculinidade com sua imagem. Ele basicamente mostra que está se expressando com a moda e ponto!

Se a mulher negra é representada na mídia como Jezabel, Black Lady ou negra raivosa, o homem negro é representado como abusivo, ladrão, vagabundo, preguiçoso e até estuprador. E essa ideia não foi formada recentemente. Um exemplo disso é o filme “Birth of a Nation” (O Nascimento de uma Nação), de 1915. O filme mostra a Ku Klux Klan como heróis e retrata homens negros — com atores usando “black face” — como predadores de mulheres brancas e preguiçosos. “O Nascimento”, inclusive, mostrava a lendária cena da cruz pegando fogo, que reviveu e inspirou a Ku Klux Klan a voltar à atividade.

Havia também o racismo científico. O médico James Marion Sims (1813-1883), considerado por muitos o “pai da ginecologia moderna”, realizava experiências em negras escravizadas nos EUA. Segundo ele, “os africanos tinham uma tolerância fisiológica incomum para a dor, que era desconhecida pelos brancos”. As mulheres negras eram cobaias e, nessas experiências criminosas, não recebiam sequer anestesia e antissépticos, o que levou inúmeras à morte. No Brasil, até hoje pessoas negras são mais expostas à violência médica — inclusive, há estudos que apontam que mulheres negras e pardas recebem menos cuidados, caso da anestesia, e são mais vulneráveis a sofrerem violência obstétrica (mas isso é assunto para outro texto).

No caso do homem negro, os estereótipos tem a intenção desumanizá-lo. Ele não é ensinado a lidar com os seus sentimentos. Pensa que não lhe é permitido mostrar qualquer tipo de fragilidade. Tudo começa na infância, quando rala o joelho e ouve de algum tio falando “homem não chora”, e se estende até  a juventude, com os comentários do tipo “isso não é coisa de negão”. Isso fica dentro dele e atinge nós, mulheres, porque o homem com o qual lidamos é resultado dessa  contrução social. A agressividade está ligada a isso também e  mantém nossos homens em uma caixa limitada e exploradora. Tem que ter força, tem que ter disposição e não ter fragilidade, tem que ser o supra sumo da masculinidade. Isso é cruel, desumano e é responsabilidade de TODOS humanizar corpos negros. Precisamos desmistificar o conceito de que pessoas negras são mais fortes e resistentes. Isso nos atinge de todas as formas possíveis e resulta até em violência e negligência médica.

Racionais Mcs:

“diz que homem não chora, tá bom falou, não vai pra grupo irmão, jesus chorou!”

O legal é que hoje vemos mundialmente rappers e artistas negros falando sobre sensibilidade e se desprendendo do código de vestimenta e comportamento tradicionais do hip hop. Eles trazem várias narrativas, e para nós isso é o sinal de que as coisas estão mudando internamente… Trappers Emos, rappers sensíveis e nerds… Às vezes, parece até uma volta ao marco zero do hip hop, época do Grandmaster Flash and the Furious Five, onde os caras se inspiravam no Rick James, vestiam colar de pérolas, croppeds, botas e chapéus.

Vemos também uma grande tendência de homens se reunindo para discutir masculinidades, principalmente homens negros, e é extremamente importante que movimentos assim tragam discussões sobre essas pautas. Óbvio que não adianta nada você pintar a unha, usar cropped e tirar foto com flor na barba e ao mesmo tempo ser um homem machista na vida real, mas o ponto que queremos chegar é: a imagem é o que chega primeiro, a imagem é a primeira mensagem e pode ser usada como arma para questionar e desmistificar, pode ser usada como protesto e quebra de estereótipos! A moda muda quando a sociedade muda.

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A TV só mostra as negras como promíscuas, serviçais ou barraqueiras http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/05/17/a-tv-so-mostra-as-negras-como-promiscuas-servicais-ou-barraqueiras/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/05/17/a-tv-so-mostra-as-negras-como-promiscuas-servicais-ou-barraqueiras/#respond Fri, 17 May 2019 07:00:55 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=155

Pelas imagens que sobreviveram aos milênios e pelos conhecimentos científicos, os egípcios estavam bem longe de ser brancos, mas nas novelas da Record, assim como em muitos filmes, os personagens poderosos são alvos como a neve. De repente, surge a primeira novela bíblica da TV brasileira com uma protagonista negra, Lidi Lisboa.

Parecia que o canal tinha sido atingido por uma onda de bom senso. No cartaz de divulgação, uma mulher linda, negra e imponente com muito ouro na cabeça. Seria Makeda, a rainha de Sabá? Na verdade, a história é a de Jezabel, que foi uma princesa fenícia que cultuava Baal e casou com Acabe, o rei de Israel, que aceitava que ela seguisse a religião dela.

Pagã, ela fez que muitas pessoas adorassem Baal. Por isso, foi demonizada e considerada poderosa, mas extremamente “má”. Era sinônimo de promiscuidade e poder, na verdade tão imponente quanto qualquer monarca daquela época. Sendo assim, tal fama é injusta, se não é dada a outros reis que hoje somente são lembrados como poderosos.

Jezabel sabia o que queria e ia atrás. Persuadia o rei Acabe, mandava cabeças rolarem, era vaso ruim de quebrar. Foi muito confrontada, até que se organizou uma revolta contra ela em que mataram seu filho. Ela teve um fim trágico: foi jogada da janela de seu palácio. Por sua história, na cultura popular seu nome está associado a imagem de uma mulher sedutora e sem escrúpulos.

Patricia Hill Collins organiza na obra “The Black Feminist” o conceito de “imagens de controle”, que resumidamente são padrões eurocêntricos limitantes impostos a algumas raças, etnias, gêneros ou grupos sociais que variam de cultura para cultura. Por exemplo, ela analisa quatro imagens de controle impostas as mulheres negras no contexto ocidental: Mula, Black Lady, Mommy e Jezabel.

Mula é a mulher trabalhadora compulsiva, aquela que trabalha excessivamente e nunca reclama. Black Lady é a mulher que abre a mão da vontade e conceito de uma família pensando em sucesso profissional e grandes posições no trabalho. Mommy é a empregada doméstica dedicada aos patrões brancos, para garantir o conforto deles. Angry Black Woman nada mais é do que o estereotipo da mulher negra brava e agressiva. E a Jezabel é a promíscua, a destruidora de lares, a insaciável que exala sexo.

Patricia Hill Collins

O termo Jezabel é usado para se referir a mulheres que não “prestam” e é uma das mais simbólicas imagens de controle impostas para mulheres negras desde a infância: a hipersexualização. Nos EUA, Jezabel foi um termo usado na época da escravidão para descrever a filha fruto da relação de um branco com uma escravizada. Ou seja, a Jezabel dos EUA é a mulata daqui. O sociólogo Gilberto Freyre romantiza em suas obras as relações entre os sinhôs e as escravas. O escritor Jorge Amado sempre se referiu poeticamente às mulheres negras como “ardentes”. Esse é o nosso país poeticamente racista. Nesse cenário, a expressão “cor do pecado” é de uma conveniência perfeita.

Estupradas e escravizadas, as negras eram usadas para a manutenção da castidade das brancas. O estereotipo que ficou foi a da máquina sexual, enquanto historicamente a imagem da branca é associada a pureza. Até hoje é assim. Nos tweets que falam da beleza das divas pop, as brancas ganham close, enquanto Iza só aparece de biquíni. A série “ O Sexo e as Negas”, exibida em 2014 na TV Globo, também apresentava a mulher negra como objeto sexual ou barraqueira, como a malvada e destruidora de lares Jezabel. Antigamente, nem nas propagandas as meninas negras eram poupadas da desumanização e da hipersexualização. Confira na caricatura abaixo:

Nas imagens abaixo, cinzeiros mostram a sensualidade exagerada das mulheres pretas:

No Brasil, o termo “disputar a nega” em jogos, do dominó ao futebol, relembra que as mulheres pretas serviram para desempatar o desempenho dos homens.

A TV brasileira tem a infelicidade de ter no humor vários personagens que têm em si todos os estereótipos racistas possíveis.

Acima, dois bons exemplos da imagem de controle ao estilo “Mommy”, no filme “E o vento levou” e no desenho “Tom & Jerry”.

Outro legado da colonização é o estereotipo da índia safada. O colonizador estuprou aos montes as indígenas, e hoje elas são retratadas como as promíscuas.

No texto “A Lacradora: como imagens de controle interferem na presença de mulheres negras na esfera pública”, Winnie Bueno fala de um contexto brasileiro, citando “a lacradora” como síntese dessas reproduções infelizes de estereótipos.

É necessária a presença de negros, indígenas e outros grupos marginalizados na mídia, mas não de qualquer jeito. É necessária, mas para além das leituras racistas e estereotipadas, afinal, essas reproduções são “heranças” que tem o poder de perpetuar esse ecossistema que desumaniza e mata cada vez mais corpos. Seria muito legal, além de Jezabel, ver nas novelas Makeda, Zipporah, Simão de Cirene e tantos outros personagens não-brancos da Bíblia. Aliás, vai ser tudo de bom no dia em que houver uma novela de tanto sucesso como as da TV Record com um Jesus mais real, mais parecido com o que é cientificamente comprovado, longe de ser loiro dos quadros e filmes. Fica a dica!

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“F***-se as suas etiquetas” e viva o seu sonho: 21 perfis para se inspirar http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/05/03/f-se-as-suas-etiquetas-e-viva-o-seu-sonho-21-perfis-para-se-inspirar/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/05/03/f-se-as-suas-etiquetas-e-viva-o-seu-sonho-21-perfis-para-se-inspirar/#respond Fri, 03 May 2019 08:00:17 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=51 Crias da Praça da Trindade e acolhidas pelo Jardim Peri, nós somos mulheres periféricas e artistas! Com 23 anos, somos seletas, estilistas, digital influencers e produtoras culturais. Estamos sempre trazendo ações para a nossa quebrada. Ao mesmo tempo, circulamos em lugares elitizados, fazemos reuniões com grandes empresas, damos consultoria para marcas de destaque e palestramos em faculdades que nós não conseguiríamos pagar a mensalidade.

Começamos com um blog, em 2014. Sem internet e usando uma câmera velha. Com a ajuda de amigos e de lan houses, fazíamos editoriais com peças de até R$ 20, além de produzir reportagens sobre assuntos que considerávamos – e ainda consideramos – importantes pra jovens negros favelados como nós. Foi pela autonomia financeira e intelectual dos nossos semelhantes que definimos o nosso slogan: “f***-se as suas etiquetas”. A nossa situação financeira beirava a miséria. A gente não comprava, só ganhava roupas. Éramos obrigadas a ver o potencial das coisas, porque simplesmente não aceitávamos não ter as coisas! Nós nunca tivemos nada de moda mesmo. Então decidimos que íamos criar.

Aos poucos, pessoas do mundo todo começaram a visitar nosso blog. Começamos a ser chamadas para vários tipos de trabalho. Fizemos grandes campanhas com marcas gigantes. Participamos de programas de TV e até de um documentário da i-d. Fomos citadas em grandes convenções de marketing como exemplos de pessoas que estão mudando a comunicação. Saímos na Meio & Mensagem e chegamos ao auge do reconhecimento para nós: o Dapper Dan, nosso maior e único ídolo no mundo da moda, falou de nós para um amigo nosso sem saber que era nosso amigo!

Enfim, hoje movimentamos eventos culturais e sociais na quebrada, nos sustentamos vivendo do nosso sonho e o mais importante: inspiramos pessoas como nós, que querem viver dos seus sonhos. São pessoas que crescem ouvindo que realizar esses sonhos não está ao alcance de gente pobre. Aliás, entre as mensagens que recebemos, as preferidas são as de pessoas que dizem que desistiram de desistir da moda por causa de nós! É aí que está a importância da internet hoje: ela fura a bolha e conecta as pessoas. A minha relação com meu corpo, por exemplo, mudou muito depois que comecei a seguir meninas com corpos iguais ao meu. E quando vejo pessoas como eu subindo de patamar, crescendo, sinto mais força para continuar me superando.

Tem outra questão: você pode aprender coisas na internet com outras pessoas. É preciso achar as pessoas certas, claro. Nesse contexto entram os influenciadores. Eles são importantes não apenas num ponto de vista de mercado, mas também de transformação social. Faz muita diferença quando uma pessoa comum vê outra pessoa comum realizando os seus sonhos e sendo bem sucedida dessa maneira, ainda mais em um país como o nosso, no qual pessoas como nós não somos representadas na mídia em posições de poder e dignidade. Então esse cenário transmite uma sensação de esperança, de que é possível, e esse sentimento pode inspirar uma pessoa a desistir de desistir.

O mercado da comunicação digital tem valorizado cada vez mais os micoinfluenciadores, que são pessoas que têm de 5 a 100 mil seguidores. O mercado hoje entende que, quando você quer falar com um público mais segmentado, os microinfluenciadores são mais efetivos, com maior engajamento e apresentam mais retorno de investimento, de acordo com a pesquisa da agência de marketing Kler:

  • Microinfluenciadores atingem até 47% mais engajamento em postagens patrocinadas;
  • Celebridades apresentam queda de até 14% no engajamento para postagens patrocinadas;
  • Microinfluenciadores obtêm 3 vezes mais likes por seguidor para postagens patrocinadas do que celebridades;
  • Enquanto taxas médias de comentários nas postagens patrocinadas caem nos perfis de celebridades, os microinfluenciadores possuem aumentos de comentários no Instagram;
  • Microinfluenciadores geram taxas de engajamento que são 2 vezes maior, pelo menos, que as de celebridades.

Ou seja, não são só números. É influência e potência! A gente é muito influenciada por artistas e comunicadores, sejam brasileiros ou de outras partes do mundo, e achamos importante dividir com vocês as nossas 21 contas brasileiras favoritas nas redes sociais! Todas relevantes e de pessoas que, em sua maioria, são faveladas ou marginalizadas. Aí vai:

@1villla

Gabriel é um jovem fotógrafo da Zona Leste e tem um feed lindo, com fotos do dia-a-dia numa quebrada. O senso estético dele é muito bom

@afreekassia

Kassia, além de linda, é talentosa: atua DJ, MC e ainda desenha as artes dos seus sons e eventos.

@_ionemaria

Ione Maria é uma grande artista: todas as criações dela passam mensagens fortes sobre auto estima e negritude.

@afrolai

Lai é DJ e MC do Rio de janeiro. Vocês ainda vão ouvir falar muito dela.

@karinnaq_

Karina é uma de nossas AfroPatys favoritas❤️ Stylist e It girl Ela posta um look mais lindo que o outro.

@weslleybaiano

Acho que qualquer descrição fica pequena pra Weslley Baiano. Ele simplesmente é maravilhoso.

@jef.delgado

Jeferson Delgado é uma super personalidade. Jornalista e dono do canal Favela Business, ele está sempre fotografando e escrevendo sobre a cultura de quebrada.

@jupdobairro

Jup é uma potência. Conteúdo sempre relevante. E ela é que nem a gente: acredita que a mudança vem do choque. Ela é cantora, mas não é só isso. Ela é o que quiser, artista!!

@itbaixada

Raíssa posta os melhores tutoriais de maquiagem a fantasias. Customização, linda, absoluta.

@slimsoledad

Slim é modelo e performer. Cria conteúdos muito incríveis. Esse feed vale a pena demais.

@safira.o.hara

Safira é uma drag que saiu nos noticiários por correr atrás do sonho da casa própria: trabalha de pedreiro de dia, construindo a própria casa, e à noite é drag. Eu acho que todo mundo tem que conhecê-la.

@rosyfunksoul

Acho que esse é o nosso feed Brasileiro favorito! A Rosy posta fotos raras do rap nacional e está sempre falando da cultura preta. Sério, vale muito a pena conferir!

@mika_safro

Mika é uma maquiadora e cabeleireira jovem e promissora. Junto com a sua mãe, elas assinam a beleza de editoriais em grandes revistas e desfiles.

@Yonidaspretas

Essa conta de Instagram fala sobre a mulher preta, sexualidade e energia. Tem muita informação incrível. Rola workshops do Yoni com frequência!

@andrezamermo

Essa é mais uma it girl incrível. Ela é da Bahia e, assim como a gente, também ensina a se vestir bem com pouco dinheiro.

@yamamayayama

Formada em arte, Mayara é trancista, educadora e cantora. Seus quadros são extremamente lindos e originais.

@savagefiction

Ale Santos é o dono das redes sociais mais necessárias desses tempos. Ele está sempre dividindo conhecimento – conta tudo o que deveríamos ter aprendido na escola. Escreve para Interessante e para Vice Brasil!

@emiajedudu

Do Maranhão, Emi é super talentosa. Não entendo como não é super famosa ainda.

@bixanago_

Ezio é dançarino, arte educador, performer e ativista HIV soropositivo.

@cidrackmarkus

Markus é um grande artista. Estampa telas e roupas com sua arte, que esbanja ancestralidade.

@vilerismo

Esse Instagram é lindo porque é totalmente estética de vila. Até me dá um sentimento de nostalgia!

@1993agosto

Marcelo é carioca, da baixada. Ele é fotógrafo, diretor de arte, modelo e até estilista. Jovem periférico que sempre inova. Trabalha com grandes marcas e é inspiração para vários jovens.

@muryllohills

Produtor criativo. As imagens dele são de tirar o fôlego.

@katumirim

Rapper e ativista indígena, Katú sempre passa uma visão necessária. Ela é de uma aldeia de São Paulo, no Jaraguá, e vem ganhando espaço no mundo da música.

@uborajun

Jun Alcântara é produtor musical e conhecedor da cultura jamaicana. Ele está sempre dividindo conhecimento. Aliás, fica a dica de segui-lo no Instagram, porque o conteúdo que ele posta é super interessante.

@andrezadelgado_

Mulher incrível, a Andreza é produtora do Perifacon, o primeiro “comic con” da Favela, e colaboradora da revista Capitolina.

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Hip hop nacional se cobre de prata para ostentar a cultura ancestral negra http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/04/05/hip-hop-nacional-se-cobre-de-prata-para-ostentar-a-cultura-ancestral-negra/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/04/05/hip-hop-nacional-se-cobre-de-prata-para-ostentar-a-cultura-ancestral-negra/#respond Fri, 05 Apr 2019 07:00:04 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=13 Muita coisa mudou na cultura preta, mas as jóias ainda permanecem. Desde milhares de anos atrás até o rapper Quavo, que carregou mais de US$ 1 milhão no pescoço, elas sempre representaram status, nobreza, beleza e prosperidade.

O rapper Baco Exu do Blues

Quando vamos para o universo do hip hop, então, as jóias são praticamente uma cultura dentro de outra cultura! Chamadas de bling, essas peças representam uma herança com muitos significados sociais, políticos e religiosos. Elas fazem dos rappers uma espécie de faraós modernos, com os ornamentos declarando a ancestralidade.

Nos anos 1970, Kurtis Blow fez o primeiro álbum de hip hop a ganhar o disco de ouro. Na capa, fazia muito sentido ele estar com o pescoço cheio de ouro. A partir daí, os enfeites dos rappers só aumentaram…

Anéis em todos os dedos e voltas e voltas de correntes faziam parte do visual daquele momento. Eric B. & Rakim, na capa do disco “Paid in Full”, usaram correntes que custavam aproximadamente US$ 100 mil cada uma!

Esse sucesso fez com que o hip hop, apesar de um ainda ser um ritmo relativamente novo, se tornasse um dos estilos mais influentes — e assim permanecesse. Claro que, nascido dentro da cultura afro-americana, seus pilares foram exportados para o mundo pelas vozes e ideias dos artistas dos EUA. Mas o Brasil já construiu sua própria narrativa e segue a renová-la, com novidades e estéticas ligadas à história brasileira, o que permite a formação que uma nova perspectiva também!

Prefiro não usar ouro e não ser falso em nada
Djonga

Nos anos 1990 e 2000, os fãs de rap no Brasil eram bem mais americanizados, seguindo o visual e roupas dos ídolos nos clipes, que obedeciam a uma estética do gueto nos EUA. Atualmente, o rap BR está menos Bronx e mais favela. Mais próximo do funk, e é muito bom ver duas culturas de favela com o mesmo fundamento e se enxergando uma na outra. A cena nacional está sendo bem influenciada por Djonga e Baco, que rimam sobre herança negra e poder. E, claro, também usam adornos pesados de prata, citando o metal em várias músicas.

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Virei imortal ao aceitar sua pele é prata
Virei imortal ao aceitar minha pele é prata…
Baco

Tive essa brisa ao descobrir que a prata era um dos metais mais puros. Só que o ouro é mais raro. São a mesma coisa, só muda a cor. E a questão dos negros no Brasil é a mesma coisa. São maioria
Baco, para a revista “Rolling Stone”

Lá fora, os joalheiros têm tanto prestígio quanto os rappers. Angel City Jewellers e Ben Baller/IF&CO são as referências nos EUA. Aqui, temos Ago Jóias, Gustavo Isgroi, Castella Jóias, Joalheria Flor de Liz , Brazil Grillz e Ita Jóias, entre outros. No meio dessa turma há um menino da ZL de São Paulo: Marcelo Maia, da marca King Maia, que firmou seu nome com o Instagram. Ele já trabalhou com vários MCs e trocou uma ideia com a gente.

Tasha e Tracie: As redes sociais te ajudaram no seu negócio? Como?
Maia: Ajudaram! No começo era meio que um hobby. Antes eu só postava no meu Instagram pessoal. Aí, resolvi profissionalizar a parada e fazer um só da marca. A rede social ajuda porque você fica muito mais próximo do cliente. E não é só a molecada, que é grande parte do meu público, mas você fica mais próximo de formadores de opinião, o pessoal do rap. Tem umas pessoas que seguem minha marca que eu desacredito. Eu coloquei tudo no Instagram. Demorou bastante para eu ter um site de e-commerce, porque eu não queria isso. Chegou uma hora que eu já tinha peças de linha. Mas até hoje os [blings] personalizados eu faço só pelo Instagram e WhatsApp, porque você cria um laço maior com quem compra.

Qual rapper foi seu primeiro cliente?
Foi o Ogi. Depois disso vieram Bloco Sete, Djonga, Ceia Ent., Froid, Mob79, Baco, Menestrel. Isso fora os rappers que não estão no mainstream, mas que compram minhas peças pelo Brasil todo. É muito da hora caras como o Djonga ou o Baco, que são formadores de opinião, te escolherem pra fazer uma peça, porque eu escuto o som deles pra trabalhar. Hoje consigo lidar melhor com isso, antes eu ficava meio deslumbrado. Depois que o Menestrel citou a King Maia num som, a marca tomou outra proporção.

Como você começou?
Comecei com o meu pai, como “profissão de berço”. Ourivesaria tem um pouco disso, né, passa de pai para filho. Mas eu comecei a botar identidade nas peças quando eu comecei a criá-las. Meu pai me ensinou muita coisa, mas eu fui para um lado em que eu tive que ser mais autodidata. Ele não criava tanto, não modelava. Então tive que aprender a modelar na cera e fui colocando a minha identidade nas peças.

 

O começo de tudo

Como já falamos, o legado que Maia e outros artistas carregam dentro da cultura hip hop vem de muito tempo. Os metais preciosos sempre foram emblemáticos na cultura negra. Em várias das antigas sociedades africanas, o ferreiro — ou ourives — era mais do que um prestador de serviço: era quase um mago, um artista, alguém que era tratado como se tivesse recebido um dom dos deuses!

 

Os tuaregues preferem usar prata porque é o metal do profeta. Eles usam suas jóias como moeda de troca por comida e tecidos — além disso, os anéis passam entre homens e mulheres como um sinal de afeto.

No antigo Egito, a prata, segundo historiadores, chegou a ter um valor similar ao do outro, e muitas tumbas e peças eram produzidas com o “metal branco”, nome dado pelos egípcios a prata.

 

Nos séculos de colonização europeia, a região de Gana era conhecida como a “costa do ouro”. Os membros das famílias reais africanas, além de usarem lindos e extravagantes colares e pulseiras, trançavam o cabelo com ouro, que também era usado como adorno para a cabeça. Agora ninguém se vestia de dourado como Mansa Musa, rei de Mali no século 14 e que é reconhecido como o homem mais rico QUE JÁ EXISTIU. Especialistas consideram impossível mensurar com precisão sua riqueza, mas algumas histórias dão a dimensão do caixa de Musa — em uma viagem ao Cairo, ele doou tanto ouro aos locais que gerou uma crise inflacionária na cidade.

No Brasil, nos séculos da escravidão, os conhecimentos específicos de cada povo serviam como um dos critérios no comércio de escravos. Pertencentes ao grupo etnolinguístico bantu, os negros de Congo e Angola que ficavam à venda no Rio de Janeiro eram conhecidos como “o povo que detinha o segredo da metalurgia” — foram eles que produziram ferramentas como enxadas e foices e que, em Minas Gerais, criaram os primeiros fornos de fundir ferro do estado. Na virada do século 17 para o 18, aumentou o número de escravos que vinham de Gana, porque os portugueses se ligaram que esses povos sabiam trabalhar o ouro, eram mineradores, faziam jóias, sabiam buscar o metal….

Nos séculos 18 e 19 surgiram na Bahia as jóias de crioulas e os balagandans que marcaram a ourivesaria brasileira. Essas peças eram usadas pelas “negras de ganho” — mulheres que no período colonial e no Império realizavam tarefas, vendiam temperos, verduras, etc e repassavam parte do valor recebido para os senhores, enquanto a outra parte elas normalmente tentavam guardar para comprar sua alforria e suas próprias jóias.

Essas mulheres usavam correntões, pulseiras, brincos, abotoaduras e pencas de balagandans na cintura, com vários amuletos de proteção e peças religiosas. Maiores e ocas por dentro, algumas peças feitas de ouro eram usadas em grande quantidade em dias de festa.

Essa ligação dos ferreiros ancestrais ao conceito usado por Baco e outros integrantes da cena do hip hop nacional mostra que estamos mais conectados com as nossas raízes do que podemos imaginar! Quanto mais soubermos sobre o que historicamente ouvimos, vestimos, comemos e falamos, mais saberemos sobre nós, um povo que teve a identidade sequestrada!

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Tasha e Tracie estreiam blog no UOL TAB http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/03/14/tasha-e-tracie-estreiam-blog-no-uol-tab/ http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/2019/03/14/tasha-e-tracie-estreiam-blog-no-uol-tab/#respond Thu, 14 Mar 2019 19:10:13 +0000 http://tashaetracie.blogosfera.uol.com.br/?p=7 Tasha (@tashaokereke) e Tracie Okereke (@tracieokereke), 23, paulistanas, gêmeas. São DJs, estilistas, diretoras de arte, produtoras culturais, blogueiras e ativistas periféricas. Trabalham em prol da autonomia e da autoestima do jovem favelado. À frente do projeto Expensive $hit suas armas são a moda, a música, a arte, a história, a cultura, o conhecimento e a internet. Dividem e espalham informação para os seus, abordando assuntos urgentes. Site: tashaetracie.com.br

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